top of page

Compreender os nossos mini-eus

Tendo em conta que temos estas diferentes motivações e desejos associados a diversos tipos de emoções, talvez não fique surpreendido(a) de saber que as nossas mentes são complexas, com muitas tonalidades e facetas. Por vezes podemos estar calmos e relaxados, outras vezes frustrados e irritados com os outros e outras vezes entusiasmados e alegres. Assim, a mente humana é uma grande mistura de potenciais estados de humor, emoções, sentimentos e formas de estar no mundo. Raramente paramos e pensamos "Bem, dadas todas estas potenciais emoções e desejos, que na verdade não escolho, mas que estão lá porque o meu cérebro funciona deste modo, qual é o tipo de “Eu” em que me quero tornar? Que tipo de “Eu” quero treinar-me para ser?"

Compreender os nossos mini-eus

Estes diferentes aspetos de nós mesmos são como mini-eus que podem prender a nossa atenção. Eles estão associados a certos modos de pensar, sentimentos, sensações corporais, formas de agir e memórias. Uma maneira fácil de pensar sobre os nossos mini-eus, ou Eus possíveis, e quão poderosos podem ser, é com um exemplo:

​

​

​

​

​

​

​

​

​

​

​

​

​

​

Então, primeiro foque-se em como o “Eu zangado” pensa na discussão. Esta parte de si talvez tenda a atribuir culpa e a fazer muitos juízos de valor. Talvez pense que o seu amigo foi irracional, desinteressado, insensível, indiferente, ou demasiado exigente. Então, o “Eu zangado” tende a pensar sobre coisas de uma forma particular. Agora repare como sente no corpo este “Eu zangado”. A raiva faz aumentar o nosso ritmo cardíaco e contrai os nossos músculos. O “Eu zangado” tem um determinado tom de voz e expressão facial. Então, o “Eu zangado” afeta o nosso corpo. 

​

Agora, repare como o “Eu zangado” se comporta (ou quer comportar-se)de certa forma: talvez se torne mais bruto, aumente o tom de voz ou diga coisas para fazer com que o seu amigo veja o seu ponto de vista, ou mesmo para o humilhar ou se vingar. Quão frequentemente dizemos coisas enraivecidos, e depois nos arrependemos? No extremo, o “Eu zangado” pode tornar-se violento. E, quando refletimos na raiva, todo o tipo de memórias pode vir-nos à cabeça. Podemos lembrar-nos de coisas pelas quais estivemos zangados no passado, e que podem aumentar os sentimentos de raiva. Ou, quando sentimentos de raiva surgem no nosso corpo, podemos lembrar-nos de momentos em que outros estiveram zangados connosco, por exemplo na nossa infância. 

​

É interessante que o “Eu zangado” veja o mundo de uma forma particular, que mude o corpo e o cérebro de uma forma particular, que queira agir de uma certa forma e que tenha as suas memórias específicas. As pessoas que são propensas a deixar o seu “Eu zangado” dominar podem ter muitas lembranças de serem magoadas ou rejeitadas e de se sentirem zangadas com o comportamento de outras pessoas. Uma vez que todos nós temos um potencial “Eu zangado” dentro de nós, a pergunta que temos de fazer é: "Até que ponto queremos que ele conduza as nossas vidas, ou que ele simplesmente nos domine e nos leve a dizer e fazer coisas que mais tarde podem não ser benéficas para nós?”. O “Eu zangado” é um mini-eu e talvez não deseje que seja ele a gerir a sua vida. A agressividade é importante, mas se for deixada à sua própria vontade, a irritação, frustração e raiva podem ser destrutivas – especialmente se ruminarmos muito sobre elas. 

Imagine uma discussão com alguém de quem você gosta ou com quem se preocupa. Então, pensando nisso. Vamos agora dirigir a atenção aos diferentes aspetos de si (diferentes mini-eus) que podem ser ativados durante essa discussão. Vamos começar com a parte de si que se sente irritada, aborrecida ou zangada pela discussão. Vamos chamar a isso o seu “Eu zangado”. 

Compreender os nossos mini-eus

Mas como dissemos, a raiva não é o único mini-eu possível nesta situação de discutir como seu amigo, colega ou chefe. Outro possível mini-eu é o “Eu ansioso”. Então, vamos fazer a mesma coisa, mas desta vez vamos focar-nos no “Eu ansioso”.Então, primeiro foque-se em como o “Eu ansioso” pensa sobre a discussão. Talvez essa parte de você tenda a pensar sobre possíveis consequências negativas da discussão na relação com o seu amigo, ou pode haver uma vozinha na sua cabeça a dizer que você é que não está a ser razoável. Pode preocupar-se em não conseguir explicar o seu ponto de vista muito bem e acabar a fazer figura de parvo. Então, o “Eu ansioso” tende a pensar sobre as coisas de uma forma particular. Em seguida, observe o “Eu ansioso” no seu corpo.

A preocupação e ansiedade também podem fazer aumentar o nosso ritmo cardíaco e tensão muscular, mas de maneira diferente da raiva. Por exemplo, se ficamos muito ansiosos podemos sentir os nossos joelhos a tremer e querer ir a correr para a casa de banho. Isso nunca acontece com a raiva. O “Eu ansioso” tem também uma expressão facial e tom de voz específicos. De seguida, repare como o “Eu ansioso” se comporta (ou quer agir) de determinada maneira: talvez ficar calado, tentar evitar a discussão, afastar-se ou mesmo tornar-se submisso e pedir muitas desculpas (mesmo sabendo que tem razão). Bem, tal como com o “Eu zangado”,o “Eu ansioso” não reflete sobre os conflitos ou qualquer situação na verdade, porque tem os seus próprios objetivos de tentar evitar ou fugir de perigos.

Observe também que cada emoção tem uma história e por isso muito raramente experienciamos uma emoção completamente nova. É por isso que algumas pessoas podem ficar irritadas ou ansiosas com (o que parecem ser) coisas triviais, porque, na verdade, o que está por detrás dessas coisas triviais são memórias emocionais de situações passadas.

​

Conflitos internos: É também muito importante reconhecer que estes diferentes tipos de mini-eus dentro de nós podem muitas vezes estar em conflito. Por exemplo, pense, por momentos, no que é que o “Eu zangado” pensa sobre o “Eu ansioso”.Quando se pergunta isto às pessoas muitas vezes percebe-se que o “Eu zangado” não está muito contente com o “Eu ansioso”, pode mesmo não gostar dele e vê-lo como um medricas. O “Eu zangado” pode até mesmo zangar-se com o “Eu ansioso” por este estar ansioso! Visto pelos olhos do “Eu ansioso”, no entanto, o “Eu zangado” pode ser muito assustador e precisar de ser controlado! Então, diferentes partes de nós podem estar em conflito umas com as outras, porque veem o mundo de maneiras diferentes e querem agir de maneiras diferentes.

Nós podemos fazer este exercício com todos os tipos de mini-eus como o “Eu triste”, o “Eu feliz”, o “Eu crítico”, o “Eu envergonhado”, o “Eu culpado”, o “Eu perfecionista” e por aí adiante. Basicamente, pode ver que o nosso cérebro tem diferentes padrões e estes padrões têm diferentes maneiras de pensar, sentir, agir e recordar. Então a questão é: Podemos começar a escolher um padrão e tipo de Eu que traga harmonia para o nosso corpo, mente e relacionamentos?

​

Bem, na verdade podemos, e a isso chamamos Eu compassivo. Assim como qualquer outro aspeto do Eu, ele tem a sua própria forma de pensar, sentir, agir (ou tendênciasde ação) e tem as próprias memórias.

Compreender os nossos mini-eus

Vamos voltar à situação anterior e pensar sobre a discussão com um amigo. Vimos o que o “Eu zangado” e o “Eu ansioso” pensam, sentem e querem fazer, mas suponha que poderia parar e, deliberadamente, tentar concentrar-se no que o seu Eu compassivo gostaria de fazer nesta situação. Vamos começar a treinar o seu Eu compassivo de seguida, mas para lhe dar uma ideia de como ele funciona, por agora imagine que o Eu compassivo reconhece que o cérebro humano entra facilmente em conflito. É capaz de ser relativamente calmo e razoável, tenta ver ambos os lados da discussão e quer resolver a discussão de forma adequada, mesmo que seja apenas para respeitar as diferenças. De que forma isto seria diferente para si? Quais poderiam ser os benefícios? 

​

Eu compassivo iria reconhecer que as discussões fazem parte da vida e que esta é uma situação stressante mas que você e o seu amigo têm opiniões diferentes e as coisas são mesmo assim. O Eu compassivo pode sentir mais calma no corpo, ter uma expressão facial e tom de voz mais relaxados, e pode querer tentar resolver o problema – tentando não ser agressivo (“Eu zangado”) ou submisso (“Eu ansioso”) – mas tentando realmente encontrar a melhor forma de ser útil.

bottom of page